Na altura da sua independência, a 25 de Junho de 1975, Moçambique decretou uma norma que ficou conhecida como 24/20. Destinava-se principalmente a antigos colonos, proprietários de terrenos e industriais portugueses, aos quais se aplicava uma regra de interesse nacional segundo a qual tinham 24 horas para sair do país com uma mala de peso máximo de 20 quilos.
No processo de criação das minhas obras, predomina a estrutura de sistemas de ativação da percepção, onde “o espectador” é encorajado a completar o discurso, esses sistemas aspiram a ser este, aquele que acaba por dar forma à obra.
24 horas 20 quilos é um work in progress, faz parte de uma série de obras que compõem o projeto Forward. Na mesma convocação várias pessoas, artistas, críticos e amigos intelectuais para selecionar um texto (poema, prosa ou teoria) que represente algo fundamental em suas vidas. A princípio meu trabalho consistiria na intervenção desses textos. A obra selecionada pelo crítico e curador brasileiro Ivo Mesquita foi o romance Caderno de memoria coloniais de Isabela Figueiredo, escritora moçambicana branca.
Como disse Jorge Rachid: “uma cultura dominante faz com que a maioria, se sinta como minoría em seus próprios espaços, sendo as minorias coloniais as que dominam a cena no espectro cultural. Esse confinamento implica uma “sem saída” para o futuro dos povos, da mão colonial da desmemoria de sua identidade, e da perda de sua história social e comunitária "...
No caso da minha proposta, metaforicamente, atuo da mesma forma, mas na direção oposta, eliminando por completo a memória e a história do autor, ao riscar, a supressão da história para criar um novo texto. Guardo algumas palavras: preto, preta, branco, branca, sexo, carne, etc.
La obra forma parte de la Muestra Material Thinking organizada por el Instituto de Arte Contemporáneo, Academia de Artes y Diseño, Universidad de Tsinghua. Beijing, China.